Debruçares casuais
Antonio Miranda Fernandes
Andarilho...
Com os pés fatigados pelos amargores,
Fora o pó, que dele nem se dava conta,
(Já não lembrava como era antes)
Caminhou até que curvasse ante o peso das dores.
Antes que o olhar perdesse o brilho.
À sombra de uma árvore, sentado no gramado,
Sem muro e sem cercas de arames farpados,
Entre trinares, esvoaçares e perfumes das flores,
Secou da fronte o suor do estio,
E arrumou um amontoado de cartas de amor
Que falavam de beijos em debruçares casuais.
Pensou sem pressa as feridas que se haviam feito,
E refletiu como todas as coisas começam:
A semeadura...
A chuva...
E depois os florais...
(Os espinhos não importavam)
Ele, sentindo-se pronto para o plantio,
Acarinhou as sementes que trazia no peito.
Com o olhar úmido de gratidão à vida...
Refeito pelo que ela lhe havia guardado,
As lagrimas restantes deixou para a irrigação,
Sentiu-se alegre e leve como criança,
E rodopiou e fez a dança na ciranda que era sua,
Ao assoviar as notas musicais que ele queria.
Com o coração escancarado para novos sonhos,
Na arrumação dos poemas
Que havia colhido como maçãs,
Ele aguardava ouvir,
Ecos de passos que viessem iguais
E alvorecessem na manhã que ele perseguia.