Improviso matinal
Agradáveis as pontas dos dedos na minha cabeça
que se abandonou entre as minhas mãos.
Do lado de dentro das pálpebras
teimou a preguiça de abrir o olhar.
Em algum lugar do lado de fora da janela
o escarcéu do bem-te-vi amareleceu a manhã
como estrelasse um ovo
que se esparramou por aí e desenrolou o azul do céu,
tal qual desembrulhasse balas de anis.
Largado como criança assim,
sem mais nem menos, no estar por prazer de estar,
na breve lembrança do leite quente com canela,
e com o peito pando e o coração feliz,
deixei-me invadir pelo aroma molhado de grama
abrindo-me à vida tal cúmplice das pequenas margaridas
que pareciam pipocas no jardim.