Lei de talião
Antonio Miranda Fernandes

Suas palavras são pétalas secas de uma flor erma que murchou enferma.
Extinguiram-se as palavras suaves de antes que aqueciam e iluminavam as noites frias e minguantes.

O medo próprio de quem tem esperanças deu lugar ao desespero,
E aparenta coragem inconsequente.

Seu corpo é agora profundo, largo e vazio.
Seus membros sedentos estão abertos a qualquer enlace oferecido.

A atração de outrora, agora coagulada,
Aplica-lhe a pena pela negligência fútil que foi fácil um dia.

Ama tudo o que perdeu. Perdeu tudo o que amou.
Restam ainda algumas ruínas que certamente também perderá, por desleixo.

Sua sabedoria e beleza física desidratam-se como uma passa,
E enruga-se como uma noz, e passa, nos atos suicidas mistos de aflição e raiva.

Passam, como sempre passaram, nuvens diante dos seus olhos,
E o céu também passará.
Resta-lhe minguada umidade de promessas feitas em templos de pobres espíritos, prometendo o paraíso.
Um amontoado de ossos... No inventário apenas ossos...

Engodo ao vento em percussão cadavérica.
O morrer da ternura ruiu o castelo de sonhos que jaz nos escombros dum fosso escuro.
Destroços...

Está aberta a ferida na vingativa lei de talião.
“Olho por olho, dente por dente”
Não há possibilidade de retorno...
Ao tempo passado não é permitido refluir para recomeço, mesmo no arrependimento e perdão.

Depenam-se suas asas nos voos volúveis, tal como uma perdiz abatida pela maldade do caçador.
Há a decadência de anjos cada vez mais doentes.

Já não há a dor... Já não há as lágrimas... Tampouco há clemência...
Os sentimentos secaram e endureceram como concreto.
Restam apenas risos forçados, na tentativa vã de ocultar a triste realidade...
Que é tão somente o manar das penitências.
Apenas...
Até o fim...
Pena!