A menina do vestido rosa
Antonio Miranda Fernandes

A menina,
Quando ainda menina do vestido rosa,
Queria assoprar para dentro do balão azul todos os sonhos que lhe deu a infância.

Eram tantos... tantos...os sonhos,
Que ela assoprou... assoprou... assoprou... com sorriso aberto de criança,
Mas o balão não suportou e estourou em seu rosto roubando-lhe a alegria.
E foram tamanhos os desgostos... os prantos...
Até a menina se tornar mocinha.

A mocinha,
Quando ainda dos príncipes encantados,
Conheceu o seu primeiro namorado e deu-se como nunca havia se dado,
No entanto, depois de algum tempo mais um sonho se foi no vento.
Foram tantas as lágrimas que, ela, feita mulher,
Não mais sentia encantamento nas fantasias de juventude.

Os poemas se tornaram para ela versos sem graça...
Eles falavam de esperança, mas não traziam de volta os sonhos perdidos.
Indiferente às flores porque elas se mostravam belas, mas depois murchavam...
E ao mar porque, embora feito de água ele não sacia a sede dos desertos...
Não apreciava a música porque ela nada lhe dizia, por não permitir...
Tampouco a dança porque tombar o corpo sem ser ferido em guerra parecia-lhe sem sentido,
E estúpidos os trinares dos pássaros...
E incoerentes as cirandas dos anjos...

Não cria no amor porque o seu coração estava frio como as rochas áridas,
Iguais àquelas que fazem a lua e as estrelas...

As estrelas?
As estrelas...
Ah! As estrelas...
Ela as ouviu cantarem... e as viu dançarem... e as uniu com o olhar
E, assim, conheceu os guerreiros que guardam o Universo...
Então...
Deixou-se guiar por elas...tal qual nau que confiante singra a vastidão dos mares...
Sentiu-se pequenina...
Colheu algumas estrelas.... brancas, azuis, amarelas...grandes...pequenas...
Diamantes... pétalas... bem-me-queres... sonhos...metáforas... enfim quantas quis...
Metáforas?
Ah! As metáforas...
Os poemas?
Ah! Os poemas... os poemas...os poemas...