A mesma fome
Antonio Miranda Fernandes
Queria,
Nesta fome insana,
Ser corpo do teu corpo definitivamente.
Que eu pudesse comer da tua presença
E saciado ficasse em harmonia.
Queria,
Neste insosso quase louco
Que me invade,
Ser o sabor que guardas na boca
Para ser engolido completamente,
Em todos os instantes de todos os dias.
Queria,
Na saudade profunda
Em que estares aqui já seria pouco,
Absorver-te toda e que o meu todo,
Não soubesse onde começo ou termino,
E retomasse o desejado sentido da vida.
Queria, por fim,
Nesta urgência desmedida,
Ter os traços do teu rosto nas pontas dos meus dedos.
Estar refletido na luz do teu olhar,
E ter em minhas mãos as linhas das tuas mãos,
Selando o mesmo destino,
Além da impressão de pajelança.
Caminhar no mesmo compasso do teu andar sem medos
Na meia-volta de volta para mim.
Queria ser assim...
Confiante sorrir puro e feliz como criança...
Que eu atendesse ao ouvir o teu nome
E fosse aos teus dentes...
Mastigado, engolido, fundido em ti,
Renascendo de fora para dentro,
Sentisse pelo que sou
A mesma atração de fome demente.