Brasas e cerejas
Antonio Miranda Fernandes

Ela andava com graça nas espumas brancas
Que lambiam as areias douradas.
Às vezes interrompia o andar e ficava com o pé suspenso...
Como hesitasse completar o passo,
Tal qual a pausa no andamento de um cântico...
Assim como espaço em branco de verso romântico...
Nesses instantes lassos ela tinha a leveza da garça.
Depois...
Como flutuasse com sorriso aberto reiniciava a caminhada.
Sua mão esquerda segurava a ponta do vestido.
O lado para o vento, levantado com certo jeito,
Em um gesto de delicadeza e sensualidade.
O calor da vida ardeu de ciúmes, e sem aguentar mais,
Pendeu a beleza e o tempo na longitude do corpo dela.
A brisa se fez em lumes ao acender duas brasas,
Sob o leve tecido de florais, nas cerejas do seu peito.