Caminho
Antonio Miranda Fernandes
Sob as folhas avermelhadas e amareladas e algumas já secas,
E gravetos dos esqueletos outonais,
Um caminho...
O mesmo caminho de sempre...
Nem menos e tampouco mais.
Como que abandonado na paisagem,
Um banco sozinho,
De volutas de ferro enferrujadas,
E ripas de madeira cobertas de musgos da umidade.
Sentado nele um vulto encurvado repousa o cansaço de caminhar,
No caminho que é o mesmo.
Apenas mudaram os passos...
Agora sem pressa alguma...
Lentos...
Como gostaria fossem os ponteiros do tempo.
O mesmo velho caminho de sempre...
Companheiro...
Confidente...
Ouvinte...
Nem menos e tampouco mais.
Apenas maiores os cuidados com tropeços,
Que o medo de tombos se fez maior.
Ele olha as pontas dos pés...
E encolhe-se sob o agasalho felpudo...
Sente-se melhor.
Puxa mais o gorro de tricô sobre a cabeça grisalha,
E larga-se no labirinto dos pensamentos...
Alguns são risonhos...
A maioria talvez.
Outros são tristonhos...
A minoria talvez.
Os indiferentes não contam por que ficaram perdidos no caminho.
O mesmo caminho de sempre...
Nem menos e tampouco mais.
Morreram e estão naturalmente enterrados nas lembranças...
E isso não é bom nem mau,
Mas eles não são lacunas em branco,
Pois ajudam a escrever folhas da sua vida.
Ele ouve distante,
A algazarra saltitante em folgança de crianças...
No recreio da escola?
Um latido alegre...
O canto ainda mais remoto e nostálgico de um galo...
Como nostálgicos parecem sempre os cantos dos galos.
Por perto,
O trinar arrepiado de um passarinho que se perdeu da primavera...
Não por repúdio,
Mas o tempo não espera...
O ruído estridulante de um grilo...
O assovio livre do vento ensaiando um prelúdio...
O sol aprisionado numa poça d’água...
Ele sente-se, apesar da idade, menino...
(Com sono a bem da verdade)
Fosse o poema um quadro
Ficaria pendurado numa das paredes da sala.
Apenas como mais uma lembrança,
Entre outras tantas...
Nascida às tantas para uma existência de abandono alegre.
Nem menos e tampouco mais...
Nada de mágoas...
Apenas isso!