Cheiro da chuva
Antonio Miranda Fernandes
Tão completamente o meu olhar perdido
Cai e se perde na chuva
Fazendo poças de lembranças.
Eu não sei aonde o meu sentir se demora mais...
Tateio com os dedos os ramos da árvore da vida...
Escolho neles as palavras mais maduras
E as dou de comer ao poema do instante,
Para saciar a fome do potro vibrante como um violino,
A galopar no meu peito.
À frente de cada emoção que quase rasga a alma,
Tão completa e profundamente,
Existe a necessidade de exibir a colheita,
Sem importar qual ela tenha sido.
Se toda a beleza do existir pudesse ser mostrada,
E toda a dor pudesse ser dividida na sua intensidade,
Assim como os versos entendem o cheiro da chuva
Que se perde nas ruas,
Bastaria apenas uma tempestade para explicar o mundo.
Assim como basta uma melodia que nos encante,
Ou uma única lágrima dos olhos de quem se ama,
Para nos fazer mar de enternecimento profundo,
No coração.