Crepúsculo fechando abril
Antonio Miranda Fernandes

É apaziguador e calmo o recolhimento
No crepúsculo fechando abril a beira-mar.
Adquire poesia o singrar do navio
Que passa no horizonte a descobrir distâncias para longe.

O seu capengar enlaça as pessoas que o veem,
Num encantamento nostálgico.
Os olhares se perguntam...
As vozes se calam...
Os gestos desnecessários se aquietam...
E os pensamentos emergem confusas lembranças
Do que foi apenas sugerido.

Sob o tépido tremeluzir das primeiras estrelas
Há o manto esbranquiçado da saudade...
Há o aroma de maresia,
Que umedece as folhas das castanheiras
E o gorjeio estridente dos pássaros.

Alguns ainda voam de uma árvore para outra árvore
Na procura do melhor ramo para dormir,
Assim como nós buscamos o melhor recordar
Para findar o dia.

Dos meninos que brincavam na praia,
Apenas as silhuetas apreciando os mistérios do mar.
De vez em quando a velada claridade
Banha de tons alaranjados
O costado de um barco de pesca que demanda o canal.

Chega até as areias o reflexo humilde e bruxuleante
Da luz do lampião a querosene de bordo.
A brisa fechou as folhas do livro de poesias que eu lia,
E aprisionou entre elas,
Versos de amor tintos com o sangue dos sentires
Do entardecer apaziguador e tranquilo.
Passarinho...
Vou me abandonar sob o trinar luminoso das estrelas.