Dor que não magoa
Antonio Miranda Fernandes

Sinto um vazio no olhar quando não estás diante de mim.
Há no lugar da tua ausência um amargor
Como o resto do vinho que ficou na taça do nosso festim.
É a dor de não ter as tuas mãos entre as minhas
Que me faz sentir que a perola da vida fica depositada numa ostra vazia.
Não é uma dor que magoa na verdade...
Ela fica à toa na alma presa ao lugar onde estavas.

Fica ali rondando os traços da tua imagem,
Como se o mundo parasse de girar e as belezas de viver congelassem.
Ela faz-me sentir a diferença entre o sonho e a realidade.
Eu não poderia ficar sem a lembrança que a quimera me traz,
Tampouco sem a realidade que me faz sentir a tua presença.

O tempo causou-me esta urgência de dar e receber o quanto antes,
Na refração célere de todos os instantes por nós vividos,
Compactados num só momento quando a tua voz me chama.

Ouço o chamamento vindo do profundo de mim quando não estás.
Ouço-me nos teus olhos quando estás.
Posso dizer-te:
A tua ausência dói uma dor que eu não queria sentir.