Dormências híbridas e viúvas

Antonio Miranda Fernandes

Que te seja leve o fascínio das descobertas
e da tua alegria irrompa a inocência nua dum lírio
cujo caule se lança e ramifica para lá
do cândido sorriso do coração em festa.

Abre a janela e debruça-te no quadro azul.
Deixa que a mocidade inunde os teus anseios
e permaneça.
Espalha cuidado nas pontas dos dedos,
e, sem medos, toca de leve e com cautela
o que deve ser preservado das dormências
híbridas e viúvas.

Olha as palmas das mãos e lê as linhas...
Descobre nelas a insistência de outra ventura.
Toma como tuas as falas além das dunas dos ventos,
e deixa que elas se tatuem nos órgãos do teu corpo.

Num soluço profundo da respiração, renasce
rompendo a película do tempo novo que desponta
na caminhada e colheita que são tuas...
apenas tuas..
rumo a outra ponta da viagem.

Colhe os lírios que te pertencem,
pois foi tua a semeadura.
Conscientiza-te ser tu posse e herança do mundo
que, inexorável, se renova a cada instante...