Ecos do peito
Antonio Miranda Fernandes
A sua vida era povoada de palavras
que ressoavam rebatidas nas paredes,
janelas e portas da sua casa.
Quando elas voltavam, embaralhadas,
esbatidas, quase mortas,
dava-se conta que era a sua própria voz
repetida pelos ecos do seu peito.
Elas eram cordatas com tudo que dizia.
Depois...
Eram engolidas pelo silêncio,
e restava um pouco mais que nada,
até o recomeço das falas
no cômodo seguinte da casa vazia.
Foi assim...
hora após hora,
dia após dia,
mês após mês,
ano após ano...
expandindo a solidão e o egoísmo
por toda a vida.
Vida que afinal,
não foi longa como imaginava que fosse..