Espantalho
Ao olhar a paisagem do campo estendida
Até azular nas mamas da serra
Compadeço-me da miserabilidade do espantalho
Desfazendo-se fincado na solidão bucólica...
Totem de palha esfarrapado, insone e insano,
Tal fantoche esquecido na seiva da terra...
Ali... inerte......a causar-me aflição... quase perpétuo...
Quase coitado...
Entre o violeta das violetas e os roxos das perpétuas.
Submisso e indefenso aos açoites das chuvas...
Dos ventos...
Da umidade...
Do frio...
Do descuidado...
Maldade e indiferença das aves pousadas em seus braços,
Saciadas nas douradas sementes do plantio,
A arrancarem-lhe do tosco rosto fiapos desgostos,
Entre uma apetência e outra.
Desigual dos Deuses famintos de ouro
Que nos templos aguardam a lengalenga de desesperos...
Ladainhas, lágrimas e dízimos...
Na chegada da manada suplicante de benefícios e curas.
Dessem-me por instante os poderes do mago,
Mesmo que num milagre comprado à vista de santo ínfero,
Libertaria o magoado espantalho antes que se desfaça
Para bem longe dos grilhões dos mata-burros.
Pegaria em seu braço e ensinaria passos à sua perna de pau...
E a sorrir as minhas compadecidas caretas de palhaço,
Entoaríamos no silêncio de nossas vozes mudas e ocas,
Para à porta do amanhã como que eco ao fundo do poço,
Qualquer canto que minimizasse as dores do esbulho...
Dele ou minhas...ou nossas...
E parecesse um acalento para sempre...
O ampararia nas primeiras hesitantes quedas do caminho
Até que aprendesse a evitar as pedras e a tombar sozinho...
Sem deixar-se cimbrar...
O faria esquecer a ingratidão sorrelfa que comeu do seu orgulho
E depois se foi...
Sem despedida... sem agradecimento...
Sem um olhar para trás...
Ao menos, que fosse...
Ao menos.