Intimidade das pálpebras
Antonio Miranda Fernandes

Assim...
De repente...
Sem mais, nem por que,
O pensamento se encolhe em silêncio,
E deixa-se ir ao crescendo do peito,
Por dentro da intimidade das pálpebras.
Como se voa no bolero de Ravel,

A alma desnuda,
Dança... Dança... Dança e sua.
Goteja pingentes de seiva e de delírios,
Pela pele e pelos olhos,
Do corpo que parecia vazio.

No clímax do sentir ela,
Lavada e feliz,
Engravida-se de si mesma e vê,
Por dentro do âmago úmido dos cílios,
Aberto,
No fundo do coração tinto,
O mais leve e agradecido dos sorrisos.