meia noite e vinte
Antonio Miranda Fernandes
meia noite e vinte
a brisa fresca entra pela vidraça aberta
e com ela respingos frios da calma da chuva
na mesinha de centro
um prato com queijo e azeite
do deleite da noite ainda...
cesto com maçãs, mangas, peras, uvas...
alguns bombons crocantes de amendoim
largados de qualquer jeito
a garrafa vazia de vinho branco seco
no cavalete o quadro recém terminado...
os pincéis ainda sujos...
os pensamentos livres e soltos por aí...
sabujos... marujos...
coisas assim
sem eira nem beira na tranqüilidade do peito...
a lua é crescente
a maré é vazante
de especial algum bocado
nada triste nem alegre
nada de novo no dia
nada de mal na noite
vozerio nos bares
quase tudo como dantes da galinha ou do ovo
parece minguante o universo
nada chocado
nada chocante
savanas... caninos... jugulares...
sangrias...
à frente...
nada anda nem desanda
os vampiros com caras inocentes
dançam cirandas
a espera da lua cheia
a baixa-mar lambendo as areias molhadas
logo ali adiante
lembra água fria batendo em chapa quente
ou o respirar do monstro do Lago Ness
por mim tudo podia ficar como está
não fosse a teimosia inquieta do mundo buliçoso
o marulhar preguiçoso meio de viés
porque insisto em fazer estes versos?
haverá a quem possa interessar estas maluquices?
ah e esta vontade de adormecer no chão da varanda,
ao ouvir na voz doce de mulher,
a meiguice de
you raise me up
ooo-ooo
https://www.youtube.com/watch?v=rT0rhVhXnNA