Momento de invocação
Antonio Miranda Fernandes
Grito o teu nome com a cabeça erguida
Como faz o lobo ao uivar para os ventos
Em noite de lua na liberdade da estepe.
Canto o teu nome com a mesma sede que
Leva os animais menores a beberem do
Regato depois de terem bebido nele os
Irascíveis sanguinários.
Com cuidado...Com zelo...Sem expor...
Sem permitir a dor desnecessária.
Canto e grito o teu nome e ao cantá-lo
Inicia-se a magia que cala todos os seres
Para ouvirem os urros do chamamento
De quem ama acima dos mistérios.
Quero lamber tuas mãos como a fera
Lambe a cria e beber a salsugem
Que delas brotar emergida da emoção.
Quero acariciar o esplendor em seu
Abandono, nos murmúrios tépidos dos
Afagos, ao pulsarem os teus seios.
Canto e grito o teu corpo, como um sopro,
De vida na argila moldada, para que
Terminantemente existas além dos meus
Sonhadores reclamos.
Falo o teu nome com a mesma convicção
Com que o pajé invoca a cura das raízes,
Dos incensos, do sol e das estrelas
E me sentir capaz de curar todos os males.
Quero mamar no úbere da Via Láctea
O leite esbranquiçado dos sonhos e
A ti ofertá-lo num beijo prolongado,
Fixando astros no céu da tua boca ardente
E que os cadentes te desçam pela
Garganta em semeadura, como gozo,
Nas espirais das tuas entranhas quentes.
Os teus olhos canto porque neles existo
Além da imensidão do espaço num
Caleidoscópio de luzes para a eternidade.
Os quero acesos em mim como chispas
De fogo lançadas pelas rubras ferraduras
Em disparada dentro do meu peito.
Canto o meu sentimento com a devoção
E fé de quem canta o mantra esotérico.
Canto e grito para que a maligna poeira se
Erga dos tempos e se transmude em plâncton
De viçosas promessas.
Algas, pétalas e sangue a um só momento
Saem do meu canto.
Canto e grito para espantar o sono e
Lembrar tua constância em todas as coisas.
Canto o teu nome, pois nada quero ver além
Dele e que saibas eu estar pronto para o
Teu ventre definitivamente.
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