Musselinas
Antonio Miranda Fernandes

Soaram dourados os meus cantos
No final de abril e sorri
Com as meninas dos olhos da mulher que amo.
Por ser da vida morri algumas vezes,
Mas ressuscitei no terceiro verso de cada poema.

Por serem meus neles subi aos céus.
Sentei-me nas nuvens e espalhei nos ventos as cinzas.
Espremi-me...
Até a última gota...
Fiz chover o que ainda restava de lágrima
Para não macular a luz do sorriso.
Semeei-me na febre do meu próprio desejo...
Mereci.

Vi brotar a florescência nos sentimentos moços.
Renasci.
Minhas mãos abriram musselinas
Beijei e lambi o frescor das framboesas
Risquei com os dedos a abóbada do ventre ardente
E respirei o perfume das pétalas róseas abertas
Que me mostraram o profundo dos sonhos
Bebi do néctar que se mesclou à saliva
E dancei volutas de alegria como abelha
Em pleno abril.