Na floresta
Antônio Miranda Fernandes
Sombra de silêncio estofo,
Solo folhelho úmido e fofo
Árvores altas, escabrosas,
Encarquilhadas...rugosas...
Umas às outras montadas,
Répteis de eras passadas...
Grossas línguas viperinas;
Iam estrangulando ferinas.
Disformes. Duelo brutesco.
Braços e garras grotescos.
Ventosas e bocas abertas,
Negras... colossais... fétidas.
Arbustos, aos pés nascem
De gigantes que se batem.
Batalhas impressionantes...
E procelosas...importantes;
Contra tufões impetuosos
De remoinhares fragosos;
Raios, faíscas fulminantes
chamuscantes, barbantes.
Fetos rendilhados e tortos
Nascendo pelos rebordos,
Delgados musgos vestem
Donde parasitas investem.
Tal atavios, desabotoavam
Corimbos, filandras fiavam
Pendentes e entrelaçadas,
Como velário emaranhadas.
Ramos e ninhos gazilavam
Que ao vento balouçavam.
E insetos zuniam, ramadas,
Abelhas obreiras douradas.
Folhas orvalhadas. Beiral,
Lavandeira, asas de cristal,
Filetes de sol, tenuíssimos
De furta-cores...levíssimos.
Fresco murmúrio de águas.
Fluíam ocultas tal mágoas!
Surgia cristalino, risinho,
Escorregando de mansinho.
Mas pouco mais à frente...
Escondiam-se novamente;
Pelas penhas circulantes,
Ora brilhavam um instante;
Espelhentas e amansadas;
Ora... flexuosas, ocultadas;
Em grota despenhavam-se!
E aves amedrontavam-se;
Asas precípites ruflavam
E folhas secas crepitavam,
Os camaleões papejando
Sobre a pedra, encarando
Com seus olhos roliços,
Esquivos, espantadiços!
As araras que grasnavam;
E doridas juritis, piavam!
E chalravam os periquitos...
E nuvens de mosquitos;
Ádito sombrio nemoroso,
Notas, lamentos chorosos.
O nambu, pesaroso, piava.
Todo o seu pesar passava,
Passante branda aragem
O sussurro como bafagem
Exalada, agitava a solidão,
Rolando folhas pelo chão.
O sol entre ramos pingado,
Sobre o fétido acamado
E trescalavam acremente
As resinas transparentes,
Gotículas que lantejavam.
E galhos secos estalavam
E águas peregrinas... íam.
Flores e folhas se abriam
Velha e ressequida palma
Desprendeu-se em calma
E, desceu ramas tocando
Foi ao chão, corrupiando.
Pequenos sagüis silvavam,
Passarinhos que trilavam
Pitadas notas derramadas.
Mistérios na mata calada
Como vaga-lumes a voar
E cintilassem sem alumiar
Geometrais teias enormes,
Rútilos galhos disformes,
Vigiava fios atentamente
Em guarda pacientemente
Aranha dourada dilatando
Palpos, imóvel, esperando
Presa que por ali passasse
E na rede se emaranhasse.
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