Pedido
Antonio Miranda Fernandes
Vai...
Entra no teu coração pela porta da frente
Senta na tua varanda rubra sem pudor
Abre a tua história
Ouve a tua fala
Lê as tuas letras
Com ouvidos e olhos alheios.
Vai...
Visita-te enquanto não envelheces
Mergulha nas tuas profundezas
E emerge com palavras que nunca usaste
Veste roupas esquecidas
Despindo o teu corpo de meias verdades.
Surpreende-te.
Vai...
Antes que o nevoeiro do tempo contagie
Os alicerces da tua vida.
Antes do risco de emergires com lava de
Anseios à boca sulforosa dos espelhos
E que não estejas tu, sozinha, diante deles.
A imagem pode ser mentirosa.
Vem...
Visita-me enquanto não envelheço
Tenho uma varanda ampla cheia de quimeras
E o marulhar das noites povoadas de desejos.
É pouco... Bem sei...
É o que tenho.
Vem...
Traze-me de presente novas fantasias,
Se tiveres, antes do enfastio da realidade
Que se encarquilha mais a cada dia
E sinto-a nos dedos ao tocar o meu rosto
Que já não é moço
Porém não estremeço.
Vem, mas...
Deixa-me no sono das minhas paisagens
Marítimas feridas de temporais
Nelas afago o meu coração que sofre
Por não saber, e talvez jamais saiba, como
Tocar-te.
Vem...
Vem nessas condições se queres ou afasta-te
Fecha-me nas lembranças como um livro lido
Ou abandonado.
Vai à busca de novo aprendizado
O mundo é uma biblioteca de opções
E disto bem sabes...
E deixa-me aqui como e onde sempre estive.