Pipa nos ventos soltos
Antonio Miranda Fernandes
É graciosa a pipa do menino
Liberta nos ventos soltos.
Ele parece um anjo descalço de cara suja,
Segurando por um barbante
O outro anjo de papel colorido
Que baila num cenário azul de eternidade
E risos.
Ao olhá-los comungo da imortalidade
Do momento.
A pipa é um deus naquele instante.
Um deus guiado pelas mãos do menino
No teatro de marionetes da infância.
A descoberta do poder do desenlace
Em suas mãos.
O roteiro é apenas a alegria do presente.
Está nele a magia oculta dos atos,
O encanto de cada segundo,
Por desvendar.
O futuro são os passos do bailado
Dentro daquele tempo sem maquiagem.
É neles que a vida se alastra e se cumpre.
Como um pássaro livre dos labirintos,
Sem pular os quadrados da amarelinha,
Na pipa ele vai direto para o céu,
Como um anjo dançarino de papel.
O tempo fora desse tempo não conta,
E a morte, quando encontra,
Fica no caminho.
Ah! Eu me dei conta que sou a pipa,
E também, contrariando os reflexos,
Para sempre, o menino.
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