Poema do desencanto
Antonio Miranda Fernandes
Eu tentei escrever o poema com lágrimas!
Transparentes os versos não mostraram a sangria que fazia no coração
O punhal da desilusão.
Então quis rasurar um borrão como névoa que ocultasse o pranto
Sobrepondo-se à lucidez e à razão,
No vendaval de inclinação afetiva.
Os dias, meses, anos... o tempo... passa enquanto se faz sonho
Extraindo os cristais excedentes de arestas,
Assim como o vento nas escarpas esculpindo a adaptação na doação
De ambos os lados.
Desilusões fazem parte da existência...
Afinal é o outro lado da ilusão... Sabemos...
E que elas também são paixões.
Que quando acontecem são algozes e mutilam impiedosamente.
A vida é viagem de duas pontas, mesmo que lhe usurpem a graça...
Vai continuar à revelia,
Hora após hora, dia após dia...
Sempre foi e continuará sendo assim.
Por fim, os doloridos da gente fingirão que não doem tanto.
Darão jeito de juntar os próprios cacos depois.
O que doeu fundo e abriu ferida no peito não foi deixar de ter as virtudes
Que os amantes mostram no início do romance,
A quem quer saciar carência concupiscente,
E sem se importar com os estragos, atira-se inconsequente no amor louco.
Tampouco foi o ruir do castelo de ideais sonhados,
Ao descobrir o quanto de efêmero...
De transitório...
Tinha o que antes parecia ser para sempre.
O que fez sofrer profundamente foi perceber no gotejar lento do sangramento,
O endurecer da alma para outros devaneios...
Para novas esperanças...
Pois, a cada desencanto, ela morre um pouco.