Recordar profundo
Antonio Miranda Fernandes

Havia,
Naquela manhã de vento e setembro a deixar agosto,
No meu olhar que se estendeu para mar aberto,
Chispas de sol do alvorecer que se cumpria lento.

Perto,
A maré enchente lambeu as areias com língua de espuma...

Os pensamentos alçaram voo e seguiram as gaivotas,
E fizeram piruetas de alegria na quietude enquanto azul.

Ao redor,
Tudo era encantamento e parecia que sempre fora assim...

De repente se cobriu de gris o mundo, contragosto,
Com as nuvens escuras que vieram do sul.

No rumo norte, já distante,
Desfez-se o pequeno barco de velas brancas na bruma.

Nele ficou,
Embarcado o recordar que emergiu do profundo de mim.

Parecia anteontem...

Embora grisalho nele rejuvenesci e esqueci, por instante,
Que o viver flui célere no ventar forte,
Para além do horizonte.