Rochas Negras
Antonio Miranda Fernandes
Ó vento dos lados do sul
Por que gelas a alma que já
Carrego tão tristonha?
Por que fazes cinza o mar
Que ainda ontem me era azul.
Quem te pôs ira medonha
Para castigá-lo com procelas?
Ele era calmo como um salmo
Agora está enraivecido rasgando-se
Nas rochas negras e ferinas
E queres o meu barco contra elas?
Ó vento dos lados do sul
Bem sabes que lutaremos até o fim
Para onde levaste a esperança
Verde que habitava em mim?
A paz do singrar por onde anda?
Escondeu-me o amarelo do Sol
Encheu-me o peito de dor
Rompeu-me as velas que eram pandas
Ó vento dos lados do sul
Se já não me confortas
Tampouco me assustas
Eu soube do salgado de cada nó
Nas fissuras do rosto lavradas por ti
Teu horror não importa
Por piedade deixa-me só aqui.