Sedução do vento
Antonio Miranda Fernandes

Ouça...
Ouça o vento...
Como ele
Estreita-se por frinchas das vigias
E é alcatéia uivando embora sozinho
Ouça como ele
Dedilha ária cigana nos estais
Como se fossem cordas de violino

Ouça...
Como ele me seduz a içar velas
E partir pelos mares...por estrelas...
E nem esperou cicatrizarem, ainda,
Os açoites das últimas procelas

Escuta como tine no tenso brandal
Produzindo som da borda de taça
De cristal servida com elixires anises
Atraindo-me ao êxtase de navegar

Ele
Quer levar-me nos acordes da lira,
Para muito...muito distante...
Eu o conheço nos seus azeites
Ingratos, mas por instantes
Faz-me esquecer as mentiras...

Não...por favor...
Não escuta o vento e seus enganos
Faz-me, tu, olvidar punhais da dor
Pois ele é louco...E quero esquecer
Os seus insistentes chamamentos
Antes que, por pena, me faça insano

Farei os meus ouvidos moucos
Com embriaguez dos teus beijos
Acarinhado por seios quentes
Na brandura dos momentos
Atracado no porto do teu corpo
Meu amor