Amor embarcado
Antonio Miranda Fernandes

Já fazem parte
Do molhe e dos crepúsculos das tardes,
Aquelas mulheres.

Elas tentam adivinhar;
Ano após ano...
Dor após dor...
Nos reflexos que o sol esparrama,
No cheiro da maresia, no voo das gaivotas,
A lonjura dos seus homens no mar.

No vilarejo há uma moça,
Que senta à porta da casa onde mora,
E borda um pedaço de pano...
Ponto após ponto...
Enquanto no fim da viela a vida passa numa risca de oceano.

Ela anseia que um homem se espante com a sua solidão...
Nem que por um momento...
E a abrace... e lhe dê a mão...e se afastem...
E se unam como pedaços de colcha de retalhos.
Ela deseja fazer parte do molhe e dos crepúsculos das tardes,
A aguardar,
Como aquelas mulheres, o amor embarcado.

Ninguém melhor que ela sabe de isolamento,
E de esperar o que não tinha...
E se a dor vier a doer por amor,
Nela a dor já doeu demais por estar sozinha