Apenas uma pedra

Antonio Miranda Fernandes 

O destino lhe deu uma pedra...
Uma pedra comum, cinza, dura, fria,
Nem lembrava o dia que ela entrou em sua vida.

Ficou sobre o tampo da sua mesa de trabalho
E ele, às vezes em devaneios a olhava,
E tentava ver algo em sua forma indefinida,
Assim como se olha uma mancha na madeira,
Na parede, no chão, no teto, no vazio...
Porta aberta por onde se vai longe nas lembranças.

Ela falou-lhe da montanha onde nasceu,
Como se soltou do céu e rolou do alto até os caminhos,
Do sangrar dos pés dos andarilhos que passaram
Em busca de respostas,
E daqueles que retornaram com menos ainda.

Com o passar dos anos
Ele viu na pedra uma flor, uma menina, uma mulher,
Que se tornou sua amiga em momentos de solidão,
Um amor...

Um dia quando ele menos esperava,
Ela lhe falou das apreensões que sentia quanto ao futuro...
Quando ele não estivesse mais aqui...

Ela novamente sozinha,
Apenas uma pedra... como qualquer outra pedra...
Comum, cinza, dura, fria,
Esquecida nos escuros da cegueira da insensibilidade
Talvez no leito de um rio agridoce nascido do seu pranto,
E o murmurinho seu canto de dor e saudade...

O peito dele se enfunou ao sentir a dor da separação,
E emergiu da profundeza do seu ser
Um grito dolorido que ecoou muito além dos vales
E ficará nos ventos e nos tempos para sempre.