Canibalismo
Antonio Miranda Fernandes

Se a mesquinhez estúpida de algumas pessoas,
Fosse um imenso pedaço de carne
Arrancado da sovinice.

Se o sangramento transbordasse o tédio e a dor
Que elas causam ao mundo,
E jorrasse sua crueldade com os mais fracos,
Com os inocentes,
Com os animais,
Para a rede de esgotos.

Se eu deixasse de ser ofendido,
Cicatrizasse o meu peito sempre em ferida,
E o meu sangue em ebulição não escorresse mais.

Se eu não sentisse a impotência de olhá-las,
Obrigado a conviver no mesmo espaço,
Sentindo os espasmos de fera enjaulada.

Eu comeria da carne devorando a injustiça
E suportaria o sabor da amargura
Que torce em convulsões a beleza da vida,
Até que só restasse a fome de ternura.