Mãos que desistem
Antonio Miranda Fernandes

Hoje chegaram palavras sabendo a fel.
Distorcidas...
Escutei-as.
Vieram de negrumes desabitados.
Elas carregavam tantos rancores,
Que clamavam por serem ouvidas.

Tinham sabor de azedos perjúrios...
Elas falaram-me de tempo perdido,
E golpearam a paz em mim.
As acolhi com afagos mesmo assim,
E dei-lhes do pote de mel que havia,
Para curar as feridas.

Elas,
Ávidas por doçura fartaram-se e partiram.
Não murcharam o esporo em mim,
Tampouco levaram o viço da florescência
De vida do jardim.

Na despedida não deixaram frangalhos...
Elas apenas se soltaram,
Como se soltam as mãos que desistem,
E se foram sem agradecer o conforto,
Deixando apenas murmúrios.