Momento de ternura

Antonio Miranda Fernandes 

Como eram replenos de aromas os dias!
Os arcos-da-chuva erguiam sorrisos no ar,
E a garoa caia para nosso encantamento.
Minhas mãos tinham sempre as tuas,
Com tal contentamento, com tal felicidade,
Que nunca se viu as folhas irem ao chão,
Apenas borboletas se desprendiam das
Árvores quando acariciadas pela brisa.
Corríamos nos verdes, tu levantando o
Vestido e eu tendo asas na camisa aberta.
As bocas mornas dos pinheirais exalavam
Perfumes que faziam chorar nossos olhos
Erguidos para o ângelus que as nuvens
Cantavam. Em algumas moitas de capim
Cricrilavam grilos misturando sons aos puros
Estalos dos risos das flores silvestres.
Seres mágicos dançavam nas nossas pegadas.
Sentados no chão, comíamos frutinhas e
Cores, tendo na alma novas descobertas.
Pegando na mão que me entregavas,
Eu a segurava com mocidade e tremia.
Os dedos da outra mão corriam por teus
Pêssegos sobre os florais do tecido,
E eu podia sentir raios do lado de dentro
Dos teus olhos fechados pelos desejos,
Os beijos eram cheios de enternecimento,
Enquanto à tarde deitava mais um dia.