Mundo meio bobo

Estou em graça com a vida e não perguntem por que estou assim...
Eu responderia:
Apenas estou... Acordei e já estava...
Sei lá de onde veio tanto esplendor.
Estou achando que ele morava dentro de mim sem que eu soubesse.
Apenas lhe deu na telha de despertar além da minha permissividade.
Tenho sorrisos por toda parte...
Estou em tudo... Até mesmo onde o tudo não era antes.
Detenho-me para conversar com as flores...
Sorvo as gotas de chuva morna que deixo escorrer
Da testa para a ponta do nariz
E brinco de pegá-las esticando o beiço,
Imitando a língua da sogra fazendo caretas para o nada.
Com a camisa aberta dou braçadas como nadasse no vento
Ou nele esticasse um barbante numa grande cama de gato.
Já nem sinto tanto a dor que trazia dentro da dor das minhas dores...
Sorrio do mar se fazendo grisalho ao espatifar-se contra as rochas...
Ele ranzinza, como sempre, na beleza teimosa
Que um dia preocupou bastante...
Quis fazer do meu barco gato e sapato.
Faço aceno amigo aos pescadores que remendam redes e desfiam prosas,
Aumentando o tamanho dos peixes nas suas histórias.
Fumam cigarros de palha de milho.
Daquele milho das espigas do poema da Cora Coralina, tão distante...
E tão próximo... Tudo a um só tempo...
Os grãos de areia, debulhados do poema, contam os beijos que levo à amada.
Estou apaixonado...
Um tanto assim... Ó... Daqui até a China...
Ida e volta... Muitas vezes... Daqui até às estrelas... Fica melhor...
Perdi a deriva...
Sei do rumo... Mas ando cambaleante de felicidade como um garoto.
Sou a pirueta e sou o palhaço...
Sou a bailarina, certinha, e sou o equilibrista meio torto...
Sou a charanga tocando durante o sonho inteiro...
Acho que tudo poderia ficar do jeito que está...
Nada há a acrescentar...
Nada é preciso tirar...
Nem remendar a lona do picadeiro...Nada desfaço... Tampouco faço...
O mundo está uma brincadeira... Da amarelinha... De pular corda...
Uma folgança... Assim... Assim... Como um rir à toa... De criança...
Amarro o tudo da vida com fita de seda num só chumaço,
E num passe de mágica tenho um lindo ramalhete de rosas,
Amarelas...
Hoje são as minhas preferidas...
Elas me fazem pensar que o mundo está amanhecendo sempre.
Antes eu preferia as vermelhas.
Mudei... Ou algo mudou em algum lugar...
Dantes eu era mais moço... Das paixões avassaladoras... Deve ser isso...
Sem me preocupar quem veio primeiro: se a galinha ou o ovo,
Tenho o peito repleto de alegria.
Sinto-me vivendo eternidades em apenas um dia...
Pois que ele seja loooooonnnnnnnnngoooo...
Assim tal uma reticência alinhavada........... Feito malha lembranceira.
Cantarolo, desafinado, ária em uníssono com o marinheiro da traineira
Que passa cambaleante, num queira ou não queira,
E deixa o canal rumo ao mar estendido como um tapete azul de galhardia.
As notas estridentes que as gaivotas pipilam
Anunciando a chegada do barco pesqueiro retardatário,
Anunciam, também, o amor aportado em mim.
Estou assim... Desse jeito... Meio bobo... Como o mundo devia ficar sempre...
Permanecer em profundo estado de graça.