Aberta a qualquer luz
Antonio Miranda Fernandes
És aberta a qualquer luz artificial,
E tens os aromas confusos das podas antecedentes.
Porém há no teu florir um desespero evidente
Quando o sol inflige.
Buscas uma ilha de extensão minguada
Andando num charco em nevoeiro,
Apenas porque não há pedras sob os teus passos.
Ouve os sons que estão na bruma plúmbea,
Ouves?...
São os rugires de feras que aguardam famintas...
E elas comem carnes e flores, e regurgitam aflições.
Não permitas perder-te no exagero da improbabilidade.
O que irrompe das tuas fendas
Inclina-se à volatilidade num derrame de vento.
O amor te pertence,
Mas ele não se encontra em corações liquefeitos.
Abandona o desespero da planta que quer reflorir
À força e em demasia,
Mesmo quando já não há mais sementes férteis...
Deixa-te natural no tempo de outono,
E o desfruta plenamente.
Não te iludas com promessas de falsas primaveras,
Pois o inverno é certo mais adiante,
E sê, na realidade, imensamente feliz.