Antonio Miranda Fernandes

Caiu o entardecer morrendo o dia,
Matando janeiro.
No poente,
Onde horas mais cedo a serra se azulava,
E se engalanava com diademas de nuvens no topo,
Tudo era de ouro e de súbito em prata.
Uma alegoria, luminosa e limpa da tarde,
Em dúvida de qual a cor para perecer.

Eu,
Que apreciava, encantado e entristecido,
Senti no olhar a mesma incerteza.
O mar, safira translúcida,
Transmudou-se em esmeralda e cobre.
Acenderam-se;
O farol da ilha (lampejos e ocultações)
Os navios ao largo,
E a cidade do outro lado da enseada...

Dela saia cauda serpeante de luzes dos carros,
E dos postes da avenida,
Até se perder no sul violeta e gris,
Para os lados mais aos suis.

Encheu-se de melancolia o meu regresso...
De onde?
Para onde?
Para quê?
Vir se eu não havia partido?
Assim como o mundo que rola os dias...
Gira no próprio eixo
Sem sair do mesmo lugar.

Framboesas...arbustos retorcidos...maresia...
Altas hastes de sisal,
Sentinelas do morro.
Ondas rugidoras da Ilha...
As florinhas silvestres desprendiam olores
Cada vez mais intensos no frescor da noite
Que se estendeu e acordou estrelas.

Fragrância penetrante e vaga,
O evolar-se da flor a embriagar a alma
Da mais profunda solidão.
Como o isolamento dos lírios nos vales...
Sem se ver a flor... flor só de perfume.

Minha alma,
Com todos os seus matizes dourados,
A se recolher como para adormecer as dores.
Ah lírio amarelo na sombra!
Alma, corpo, e poesia, uma coisa só...
Dó!