Nostalgia
Antonio Miranda Fernandes
Ontem, no calor e na pureza sincera do vinho,
O ranger solitário, altivo e claro
Do cata-vento no alto do monte dos ventos
E das vinhas em noite de luar.
O cântico cadenciado tal arraiada,
De cães e pássaros,
E de homens e mulheres. Velhos e crianças,
A encherem cestos com cachos
De pepitas do sangue da terra onde nasci.
A minha alma saudosa e madura,
Como as uvas na época da vindima,
Desnudou-se e ofereceu-se à Ceres
E enternecida, cantou e dançou cantigas loucas...
Dessas sem pés e sem cabeça,
Que a alegria inventa para aliviar o peito,
Até deixar-me a voz embargada e rouca.
Liquefez-se espremida num lagar de poemas,
E emergiu pelos meus olhos a olharem para trás.
Antes que se perdesse em solo estéril,
Dela servi mais uma taça,
Brindei à vida e a bebi num único gole...
Longo e profundo...
Até a última gota...
Até que gotejasse alguns versos...
Então... ela serenou e adormeceu em paz.