Sabor soturno
Antonio Miranda Fernandes
Não sei por quem clamam
Os gemidos do vento por entre as casuarinas
Na boca quente da noite.
Sinto nos pés, nas pernas, no peito nu, no rosto,
Nos olhos queimados pelo sol que se pôs,
Os açoites das areias no deslocar das dunas.
Bebo respingos da espuma que se solta do mar...
Há neles um sabor soturno de vendaval...
No ar o cheiro dos relâmpagos distantes...
As estrelas quase se apagam com os trovões...
Não chames por mim
Neste momento, pois não te poderei ouvir.
Não navegam neste temporal
Os barcos por onde as vozes podiam vir.
Não chames por mim para que te dê as mãos...
Eu as tenho sobre o peito rasgado de solidão!
Elas protegem um coração ferido por sal.
Não sei por quem clamam
Os gemidos do vento por entre as casuarinas
Na boca quente da noite.